sexta-feira, 4 de maio de 2012

Virtuais envolvimentos ou relacionamentos virtuais?



Noite de sexta-feira… quietude física… inquietude espiritual… vinho tinto e (ainda bem que existem!!!) letras, palavras e pensamentos dispersos… sentimentos difusos… e argumentos confusos (odeio ser lógica!)…


(Ah, a trilha sonora é Titãs: CD Sacos Plásticos)

Desinquieta com a seguinte formulação sofística: virtuais envolvimentos ou relacionamentos virtuais?

A virtualidade de um envolvimento se verifica no instante em que se manifesta o interesse, e então, há o vislumbre de uma possibilidade, há uma existência potencial, há tensão, emoção e, possivelmente, tesão…

Portanto, pessoas podem estar virtualmente envolvidas, desde que despertadas para a ideia de algo que pode vir a ser, acontecer de fato. Viver a expectativa.

Entretanto, em relacionamentos virtuais a premissa válida é a ausência de referencialidade concreta, é essencialmente inexistente. Realiza-se na falta, sem perspectiva.

Mas, não estou tentando formular uma distinção entre o mundo vivido (o real) do mundo virtual (irreal), porque essa seria a grande falácia desta reflexão!

A interação contemporânea intermediada por equipamentos e pela grande rede de interconexão não torna as pessoas nem mais distantes, nem mais próximas, tais artifícios apenas tornam a comunicação mais intensa ou frequente. (É absolutamente possível continuar tímido e arisco mesmo no ambiente virtual.)

Também não são os equipamentos, ou a rede, que tornam os relacionamentos superficiais. Seremos superficiais nos relacionamentos que surgem no siberespaço, como seríamos num bar qualquer, numa conversa informal, num encontro ocasional.

A superficialidade nas relações, a falta de cuidado com o outro, a ausência do respeito aos sentimentos alheios não se tornam, necessariamente, maiores na internet, ela apenas abre a “caixinha de Pandora” que trazemos conosco na alma.

Por isso acredito sim, que tudo é questão de “virtú e fortuna” (como em Maquiavel), ou como preveniu certo amigo (virtual) “tudo é questão de cuidado quando duas pessoas estão próximas emocionalmente” (Zander Catta Preta), afinal, pode acabar em prazer ou mágoa.

Assim, vejamos, a Fortuna (ou sorte) refere-se às circunstâncias ou senso de oportunidade e a Virtú, que pode ser associada à virtude (mas não no sentido moral do agir) e sim no exercício da capacidade de escolha e controle das ocasiões ou oportunidades. Virtú e Fortuna se conjugam para definir a capacidade de fazer a escolha certa na hora certa. O que, por fim, é o bom exercício do julgamento.

Ainda na perspectiva do agir virtuoso, encontramos em Aristóteles o conceito de “Areté”, cujo sentido pode ser sintetizado como a capacidade de tornar-mo-nos o melhor que podemos ser, ou alcançar a excelência existencial com o uso do bom senso, ou, como prescreveu o filósofo de Estagira, saber usar o meio termo entre as ações e as paixões, a fim de alcançar o fim último e essencial do ser: a eudaimonia ou felicidade.

Já Sócrates considerava que a alma é a razão do ser humano, portanto ela deve ser cuidada, protegida das corrupções do mundo, pois uma alma forte revela a Areté, o autodomínio, ou a excelência de nossa humanidade, que nos torna justos, bons e felizes.

Nosso agir, no ciberespaço ou numa mesa de bar, revela quem somos e o modo como dispomos das pessoas ao nosso redor. Revela nosso caráter humano, independentemente, do meio de expressão dessa humanidade, que se caracteriza pelo cuidado com o outro virtual ou não.

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