sexta-feira, 11 de maio de 2012

Momento Felice!





Há momentos em que nos damos conta que algumas circunstâncias acontecem em nossas vidas e nem sempre percebemos seu significado real, ao contrário, passam por nós como um lapso de tempo-memória perdido entre tantas outras coisas guardadas no fundo empoeirado da arca da lembrança.

Como no poema de Baudelaire “A uma passante”… no qual apenas o poeta se dá conta daquela mulher, que lhe desperta sensações, inquietação e desejo, no entanto, para ela é apenas um deslizar pelas ruas parisienses entre a multidão de transeuntes, quiçá segurando um lenço…

Para a mulher alta, magra e de preto é só um caminhar pela cidade… para ele, perdido na imaginação alcoólica, uma promessa de amor não cumprida…

Quantas vezes, momentos assim se perdem nas esquinas da vida e são engolidos pelas trevas do tempo, que tudo consome…?!

Beijos não dados, carinhos não continuados, abraços que não se tornam laços, olhares que não consumam intenções, fugazes amores descontínuos, contatos interrompidos, vidas que tomam rumos aleatórios…

Dezenas? Centenas? Milhares? Depende do modo como cada um vive ou viveu seus momentos, mas, certamente, todos já experimentaram essa sensação de algo que poderia ter sido e não foi, não aconteceu…

No poema, à mulher que passava diante do enlevado poeta, havia uma promessa de futuro no passado… daquilo que poderia ter sido…

“Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
“Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
“Tu que eu teria amado – e o sabias demais!”

Magicamente, alguns de nós, pobres mortais andantes pela vida, desviantes pelos atalhos do destino, temos uma nova chance, ou como diria Machado de Assis pela voz narrativa de Bentinho, para “atar as duas pontas da vida”… seria mesmo possível?!

Alguns dirão que não, e terão lá sua dose de acerto, a seu favor pesa a máxima de que já não somos os mesmos, portanto, não há continuação e sim um novo começo… pode ser..., inclino-me a concordar..., entretanto, há sentimentos dentro de nós que são desencadeados, seja em que fase estejamos, e nos fazem retornar com força total à décadas atrás de nossa existência…

Um tipo de túnel do tempo, propulsionado por uma combinação de memória, hormônios e curiosidade!!!

Aquele bichinho inquieto que vive dentro da gente, e de vez em quando faz uns estragos, o mesmo que fez Pandora abrir a famigerada caixinha…

De todo modo, quando essa mágica acontece, quando esse momento pode ser retomado, seja lá em que ponto for, isso deve ser aproveitado, Carpe Diem, diriam os romanos e, antes deles, os epicuristas gregos teriam asseverado “deves fazer em honra da divindade aquilo que é conforme a tua natureza”…

Eu, pobre mortal, brasileira do século passado, enredada por tantas remembranças e sensações prazenteiras, permito-me suspirar e pensar sobre aproveitar o momento felice… e tornar o futuro-passado em presente mais-que-perfeito…

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