segunda-feira, 30 de abril de 2012

Do blue ao blues...



Se estou blue
Ouço blues
Se fico blazé
Uso blazer
Se creio
Blasfemo
Se posso
Bloqueio
Se sigo
O blogueiro
caio
Na blague
Me vingo
Com blefe
E saio do blog…

zanzando...




Há um zumbido
Que zune… zune…
Atordoado zunido…
Que zurzi… zurzi…


Se não aguentar mais... vou embora…
Vou para Zanzibar…
Afinal, a Tanzânia é um bom lugar!!!
E por lá vou ficar...


Até que Alexandre
Abandone a Macedônia
A metrópole desvairada
E busque além do horizonte
O verde-ardósia da serra e o céu-azulado…
E fuja da terra da garoa e do cinza-nublado..


Azougue rápido e mordaz
Língua ferina e voraz
Se entre os zoilos prefere estar
Fique por lá a zanzar
E os atazanar


Que fique zonzo,
que caia na zona
que fique na zorra
eu por cá vou zangada
numa zanga danada
que zoa, zoa de mim…
pobre coitada
que maçada!!!

Para que servem meus versos...?!?




Meus versos escondem
Desejos dispersos
Sonhos adversos
Gostos diversos


Meus versos dissimulam
Gestos perversos
Discursos transversos
Sentidos reversos


Mas para que servem versos?
que tratam de avessos?
que revelam anversos?
que camuflam erros
e fantasiam acertos?


Meus versos contêm
ações escondidas
vilanias... covardias
desafinadas melodias
atitudes descabidas


Meus versos traduzem
soluços
de choros convulsos
e lágrimas amarguradas

Meus versos desesperados
Têm gosto de terra molhada
Cheiro de ventania
Cor de água salgada


Meus versos
São revoltos
tentam alcançar
infinitas metáforas
romper as mordaças
eles querem voar...


meus versos almejam
dar forma aos gritos
dar volume ao lamento
dar fim ao tormento
e vazão ao sentimento…


meus pobres versos
tão desconexos
pretendem o impossível...

domingo, 29 de abril de 2012

Dolce far niente...



A preguiça te enguiça...
te prega na cama, no sofá e
na cadeira preguiçosa...
o remédio é espreguiçar
para ficar ex-preguiçosa...
dou um pulo e me sinto viçosa!!!
a preguiça revigora...
repõe o que o cansaço tirou...
não entendo que a preguiça
seja um pecado...?!?
pecado é não ter preguiça!!
trabalhar demais é pecado!!!
descansar de menos é pecado!!!
ter preguiça não é ser safado...
é desfrutar do não fazer nada...
é um ser bem tratada...
é dar-se o prazer de apenas ficar
sentada, deitada, estirada...
um lazer cada vez mais raro de ter!!!   

Renata Gomes

Bons momentos da vida...




Hoje o que me faz mover os dedos sobre o teclado (poderia ter escrito... o que faz molhar a pena no tinteiro...)... é a inspiração que me traz Vinícius, o poetinha, e a alegria de celebrar...


No Samba da Bênção, Vinícius lembra que “é melhor ser alegre que ser triste”, porque a “alegria é a melhor coisa que existe”... mas como bom filósofo e criatura dionisíaca que foi, o poetinha adverte que “para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”... “senão, não se faz um samba não”!!!


Vai daí, que ontem, depois de longo e tenebroso inverno existencial, saí para dançar... melhor, fui convidada para dançar, digo melhor, porque sou de um tempo (o século XX) em que mulheres gostavam de ser convidadas para... sair, jantar, dançar... enfim...


E friso o ser convidada, que é bem diferente de ser chamada para sair... é muito diferente!!!!


Ainda que os tempos tenham mudado, e mudaram, algumas modernidades ainda me são muito estranhas confesso... sou uma mulher à moda antiga...


Ao menos em alguns aspectos... de todo o modo foi bom sair para dançar... foi muito bom mesmo!!!


Ainda na preparação, ou na pré-para-a-ação... estava pensando, enquanto fazia o jantar dos guris, (essa quem tem filhos sabe... há que se deixar tudo pronto para eles antes... e depois também...)... pensava que eu não precisava mais pensar (que ótimo isso, uma contradição interna na frase e na ação, aliás a frase é uma ação... pelamordezeus....continua!!!)....


Não precisava mais pensar em arrumar aquela nota de rodapé, aquela referência, aquela frase... explicar melhor aquela ideia... enfim... eu sentia um gozo profundo de liberdade interior, porque acabara de romper os duros grilhões da Tese... pelo menos por enquanto...


E, por isso mesmo, celebrar é tão bom, dançar é tão bom, divertir-se é tão bom!!!


Não sei mesmo há quanto tempo não saía... descobri que não sei mais sair... primeiro (novidade!!!) não encontrava a roupa certa para o lugar em que iria... (não encontrava por que isso não existe em nenhum guarda-roupas feminino que eu conheça...)


... a roupa certa... enfim...


segundo, chovia, estava frio... tudo conspirava para que eu abandonasse a ideia de sair e me enfiasse debaixo do meu edredom quentinho... resisti olimpicamente aos apelos dele... e pus meu sapato de salto alto, já meio empoeirado no fundo da sapateira... respirei fundo e saí...


Saí não... fui buscada... o que é bem diferente...


... o lugar, para variar eu não conhecia, descolado, badalado, segundo as opiniões vigentes e conhecedoras desses lugares... a música estava perfeita, coisa rara (para mulheres que vivem como eu há dois séculos de distância do seu tempo presente...)


... em todo o caso a música estava perfeita porque era um “Revival” (ai que lindo!!) dos anos 80... ahhhh é... aqueles que já não faz mais só 20 anos que passaram...


... a música era perfeita, o lugar legal, a companhia idem, e eu me sentindo deslocada (pode!?!?!?!)... pode!... quando faz tanto tempo que não se faz uma coisa pode!... eu tenho o péssimo hábito de me sentir meio “tia”..., continuei achando que a minha roupa não estava adequada, que havia mais guriazinhas do que mulheres ali... enfim... que eu podia dar de cara com uma das minhas alunas... depois, fui relaxando... e três Bellinis depois (que coisa pobre!!! Devia ter dito Manhatans... ou Cosmopolitans... ou qualquer daqueles drinks de Sex and City..., mas não, eu tomo Bellinis mesmo!!! Se duvidar até Keep cooler me deixaria levinha ontem...)


E três Bellinis depois, eu já estava completamente à vontade... rindo... conversando...dançando...

 Que noite!!!


E para arrematar com os versos (podres de machismo) do poetinha, mas que não deixam de ser assim mesmo uma mimosura só, porque (vou dizer) me traduzem sim e muito...


É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não


Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão


... porque a vida amigo...


A vida não é brincadeira,
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão...



... o lugar, a música e a companhia estavam completamente adequados aos anos 80... o problema é que eu estou sempre cronologicamente deslocada, por isso a escolha de Vinícius e não de Kid Abelha, ou Titãs, ou Capital...


sábado, 28 de abril de 2012

Acasos e coincidências... (existem ou não?!)

... e, relendo Bulfinch, para relembrar a lenda de Eros e Psique, como convém ao bom historiador (nada como um argumento de autoridade!!!)...
... eis que me deparo com o seguinte trecho:


"A lenda de Cupido e Psique é, geralmente, considerada alegórica. Psique em grego significa tanto borboleta como alma. Não há alegoria mais notável e bela da imortalidade da alma como a borboleta, que, depois de estender as asas, do túmulo em que se achava, depois de uma vida mesquinha e rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um dos mais belos e delicados aspectos da primavera. Psique é, portanto, a alma humana, purificada pelos sofrimentos e infortúnios e preparada, assim, para gozar a pura e verdadeira felicidade."

E, por que hoje é sábado... anda lá mais alguns versos... sobre o amor e os tantos desencontros dessa vida...


um pedaço de mim anda perdido no mundo
buscando a metade que foi roubada
porque os deuses invejosos
de tão puro amor humano
vingaram-se ao perceberem que é possível
tal encontro de almas separadas pelo tempo...
provaram seu poder ao permitirem o reencontro
e sua maldade condenando-os ao desencontro...

podem ver-se
mas não podem tocar-se
podem tocar-se
mas não podem ter-se
podem encontrarem-se
mas não podem permanecer
podem amar-se
mas não podem pertencer um ao outro...

Renata Gomes, Dez/2011

Anima - Milton Nascimento

Eros e Psique...

"Eu te confesso, Psiquê singela, esqueci as ordens de Vênus minha mãe,
que te queria cativa de imperiosa paixão pelo mais ínfimo dos miseráveis e condenada a uma abjeta união.
Fui eu, pelo contrário, que voei ao teu encontro, para ser o teu amante.
Era agir levianamente, eu sei.
O ilustre sagitário ferido com suas próprias flechas.
Afinal, fiz de ti minha mulher, para que me tomasses por uma besta monstruosa e tua mão cortasse com o ferro uma cabeça onde tu vês olhos que te adoram."
Apuleio, O Asno de Ouro, introdução, notas e tradução direta do latim de Ruth Guimarães, Rio de Janeiro, Edições de Ouro, s/d, p. 105-107. http://www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/apuleio/asno/amordescoberto.html


... as mulheres da literatura, da mitologia, ou as silenciosas heroínas da história cotidiana trazem em algum ponto da sua jornada a marca da curiosidade... a curiosidade não é atributo, exclusivamente, feminino, mas os homens o dissimulam com maior habilidade...


... assim foi com Psique, com Pandora, com Arendt (sim, Hannah Arendt a filósofa... essa mesma!!!), Sabina Spielrein, ou Lizzy Bennet, e comigo e com muitas outras mulheres... que se deixam levar pela curiosidade da alma, do coração ou do corpo...


... Vênus ou Afrodite, a deusa com defeitos humanos (porque os gregos desconheciam a hipocrisia, ou não a praticavam tão descaradamente...), enciumou-se de Psique... pela beleza que inspirava aos homens ao seu redor... mandou o próprio filho castigar a mortal... foi Eros ou Cupido ferido mortalmente por sua seta de amor... e apaixonou-se, perdidamente, por Psique...


... Psique viveu durante muito tempo atormentada por uma beleza que a impedia de amar e de ser amada apenas como mulher e não venerada pela beleza que possuía...


...ela queria amar e queria ser amada... como qualquer mortal feminino ou masculino...


há algum tempo, escrevi esses versos talvez, inconscientemente inspirada pela mágica lenda de Eros e Psique, um amor quase impossível...


... há certa amargura neles... mas são parte de um momento... um importante momento... e os intitulei...


A estética da existência



De que serve uma existência
Que se volta para o melhor?


De que serve a excelência
Se o que a vida pede é muito menos?


De que serve cultivar o espírito
Se apenas o corpo desperta desejos?


De que serve tanto conhecimento
Se o que mais precisamos dali não pode ser extraído?


De que serve uma sensibilidade apurada
Se a fruição não pode ser alcançada?


De que serve a plena consciência
Se o sentimento não lhe deve obediência?


De que serve o domínio da paixão
Se o sofrimento há sempre de ser tão grande?


De que serve não permitir-se a compaixão
Se as forças se exaurem com o orgulho?


De que serve tanto aperfeiçoamento
Tanto dever, tanta dignidade moral


Se no final


Só resta o instinto animal...

out/2011





...


Mulheres interessantes não são inofensivas, as inofensivas apenas deixam os homens mais confortáveis...

... sou uma colecionadora voraz há muitos anos, já colecionei de tudo um pouco... de pedrinhas a conchinhas, de revistas a livros, e tantas outras coisas... ultimamente, tenho me dedicado a colecionar imagens de Farfallas, Butterflies, Pappillons ou Borboletas... descobri também que ela tem significados muito interessantes, por exemplo: Mudança, Metamorfose, Transformação, Viagem, Libertação, Morte e Renascimento... o curioso é que o meu nome, ou o nome que adotei como preferido (alguns de vocês não sabem, mas meu nome é Carla Renata), enfim, Renata, também significa renascida... sempre gostei de pensar numa fênix... mas agora tenho tido mais pendor para as borboletas...

Mandalas e Farfallas

Na minha Mandala
Não há centro
Tampouco periferia
Não há retas, nem arestas
Não existe o universal
Só o humano mais que humano
Natural... irreversível
Minha Mandala confirma
a fugacidade do tempo
a relatividade da vida
ela cala mas revela as cores...
E as dores de amores
Que louco senti...
Minha Mandala
Não indica caminhos
Nem atalhos
Na minha Mandala
Só vejo incertezas
Divagações e neblinas
Me enxergo nela
Sendo o que não sou
indo sem saber
insistindo no caos
e na beleza do imprevisto
do que ocorre sem aviso
do que entra sem ter visto
na migração do espírito
em noite de luar
na transformação do corpo
em noite amor
na angústia de um desejo
que se sofre sem querer
na delícia de um beijo
que acontece muitas vezes
sem de fato acontecer...
Minha Mandala
Manda a Farfalla
Voar, voar, voar...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Por que hoje é noite de sexta...

ARTE DE AMAR
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira

Pois nunca imaginei dizer isso (como sou ingênua!!).
Será que já disse que ingenuidade na minha idade é sinônimo de burrice?!
Mas... discordo de Manuel Bandeira!
Como se pode pensar que a alma estraga o amor?!
Claro que entendo a perspectiva aristotélica da separação entre o corpo e a razão, mas... mesmo assim, não dá...
O amor começa pelo diálogo entre as almas, se elas se entendem... todo o resto tende a confluir e fluir...
Sei que alguém há de pensar, mas tu já não conheceste alguém que era muito bom na cama e depois... nada!!! Pois, vou dizer, com sinceridade... não!!!
Quando não rolava fora... não rolava dentro...
Por exemplo, um casal que nunca tenha se visto, se atrai e, se calhar, possa dançar, dançar mesmo, não eufemisticamente, dançar de verdade... não digo um tango, mas vá lá, alguma coisa em que os braços se cruzem numa altura desejável... e os rostos de encontrem de modo que a respiração seja sentida, sem, necessariamente, colarem-se...
Se esse casal hipotético conseguir acertar alguns passos e depois engrenar uma conversa... digam lá os expertises?!... não há a maior probabilidade de dar certo depois... na horizontal...?!?
Sei não, ainda sou mais alma, aliás, corpo e alma... desfrutar só o corpo é ficar pela metade... não, para mim não serve... minha alma precisa comunicar-se... pelo menos pra mim a química começa no cérebro!!
Por que hoje é noite de sexta...
Essa é para meu amigo Niso que me sugeriu um comentário sobre esse poema...


Sobre gostar de volta...

Esse negócio de Blog é um mundo novo para mim... estou acostumada a escrever, escrevo muito mesmo... ler e escrever é minha vida e profissão... mas escrever assim, sobre qualquer coisa, para qualquer pessoa é algo muito atemorizante em certo sentido...


De qualquer modo, estive lendo alguns posts de Blogs bem legais que conheci há pouco tempo, "apresentada" por um "amigo" do Facebook... tudo entre aspas porque, nem ele me apresentou a nada, nem é meu amigo realmente, porque não nos conhecemos pessoalmente... e isso para mim ainda é muito estranho...


Não tinha o hábito de ler Blogs, tenho acompanhado agora, mais por conta desse "amigo", com o qual tenho encontrado afinidades, ou encontrado coisas de que eu gosto a partir das leituras que ele faz e compartilha...


Tenho expandido meus horizontes em relação a Blogs...
Li um texto muito interessante hoje, nesse blog http://papodehomem.com.br/a-danca-e-para-dois/... dica desse amigo virtual...


um texto muito bom sobre como as pessoas perderam a capacidade do flerte... mas eu acho que é um pouco pior... algumas perderam a capacidade de gostar de volta...
tenho uma amiga muito real e muito querida, que costuma dizer que é difícil encontrar quem goste de volta...


as pessoas querem ser gostadas, querem que os outros demonstrem interesse por suas coisas, gostos e ideias... mas há uma dificuldade enorme em compartilhar...


basicamente, ouvir o outro e depois falar, ou falar e depois perguntar ao outro alguma coisa sobre ele... estamos falando de diálogo...


as pessoas falam, escrevem, comentam... mas poucas dialogam... e isso é gostar de volta...


e não tem essa de mundo feminino ou mundo masculino... isso é apenas interesse e troca... tão bom quando existe... reciprocidade...
as pessoas estão muito vias de mão-única... sem perceber que a graça está em percorrer e ser percorrido...

obrigada pela dica de hoje Zander!
Renata

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A vida e suas surpresas…

….. e então ela voltou para casa, o lugar que deveria ser o abrigo seguro contra todos os males do mundo, já não podia protegê-la de si mesma, de seus desejos e pensamentos… chegou, com a boca seca, ofegante, fria e um pouco trêmula ainda, mesmo as atividades triviais não lhe desviavam a atenção do turbilhão que trazia na alma e no corpo…
Ele estava tão lindo!!! A blusa vermelha sinalizava um estado de espírito tão inquieto quanto o dela, saíam faíscas de ambos os olhares, havia um desejo contido em cada palavra, gesto e expressão…
Mas não havia espaço para manifestações, não havia lugar para expressões de carinho, senão apenas do olhar e sorriso…
Ela sentia o corpo enrijecido por sensações intensas, a alma vagava em torno sem saber onde restar… desfez-se do calçado molhado, do casaco pesado e subiu para o quarto na intenção vã de aplacar e fazer calar o que lhe gritava por dentro…
O corpo era frio, mas a alma incandescida não permitia que sentisse a temperatura real…
Deixou-se ficar em frente ao espelho, enquanto lembrava dos olhos, da boca, das mãos dele…
Ah, o que não dava agora para tê-las em si, não apenas por minutos contados, mas por um tempo sem tempo, mãos que deslizassem, quentes e macias, no corpo também assim quente e ávido daquele carinho…
Ah, o que não dava agora pelo beijo daquela boca, que só sabia dizer que também a queria, sem dizer uma só palavra sobre isso…
Ah, aqueles olhos que queimam e devassam, iluminando e perscrutando cada pedaço possível de ver…
Em tudo isso pensava, e quanto mais pensava, mais intenso ficava, não sentia frio, mas o corpo estava arrepiado… olhou-se outra vez no espelho…, tirou o vestido, as meias e depois as rendas que lhe realçavam o que ainda permanecia belo…
Deixou-se ficar assim alguns segundos, imaginando o quanto seriam felizes se pudessem realizar-se mutuamente…
Prendeu o cabelo, entrou no banheiro, ligou o chuveiro e, simplesmente, deixou que água quente aquecesse o corpo para igualar-se a alma, mas a alma não podia ser igualada, porque o calor que a invadira era muito superior ao calor que sua pele poderia suportar…
Fechou os olhos, tudo o que queria era reter aquelas imagens de momentos antes, o olhar, a boca, as mãos, infelizmente, não podia ter a sensação do cheiro, não pode alcançar a proximidade necessária para senti-lo, mas, intimamente, sabia que era bom, doce, e também quente, afinal já o experimentara em outra ocasião…
Finalmente, o corpo sedento cedia ao calor da água, suas próprias mãos se encarregavam de deslizar sobre si mesma…, não existe nada que já não saiba de si, o que não sabia era que ainda podia entregar-se com tanta intensidade à sensações que julgava adormecidas, e era isso… estavam adormecidas e agora despertavam, vibrantes e vigorosas como devem ser as sensações de prazer…
Como seria bom poder deslizar minhas mãos sobre aquele cabelo grisalho, tão lindo… tirar-lhe os óculos devagar e beijar cada recanto, cada beco, cada esquina e desvão, daquele rosto tão meigo, suave e belo…
De resto, havia silêncio, embora o coração agitado troasse como os acordes duma orquestra executando a 5ª Sinfonia de Beethoven…
Saiu do banho, o corpo agora estava mais leve, menos indócil, quase calmo…
Ligou o som, foi ouvir a 9ª Sinfonia, já estava mais alegre agora, pensava em tudo como se tivesse acordado recentemente de um sonho…
Vestiu-se sem as rendas de antes, sem o cuidado de antes, sem a expectativa de antes, voltara, aterrissara na vida normal, como se ainda pudesse voltar a ser normal, mas nada mais era como antes…
Abriu o computador conferiu a caixa de mensagens sabendo que não haveria nada de novo…
Contentou-se em reler as antigas mensagens, tão doces, tão cheias de ternura…
Perguntou-se: como pode ser? Como pode acontecer? Como? Como?...
sem resposta, apenas intuiu: é a vida e suas surpresas!!!

Motivos tantos



Hesitante... Excitante...
Prevejo tua agonia
Nesse instante...
o desejo te consome...
Mas há mil razões para desistir

E se desistes? De que desistes?
De algo sonhado?
De algo querido?
Ou de algo aparentemente desconhecido
mas já na alma absolutamente entranhado?

E se desistes? De que desistes?
Do sonho... do desejo?
Da aventura ou da segurança?
Da loucura ou da sanidade vã?

E se desistes? De que desistes?
Da ilusão... do medo?
Da imensidão ou do vazio?

Se pensar é agir
Se sonhar também é viver
Como podes negar-te o sonho
ou calar-te o pensamento?

Se desistes de sonhar
Desistes do poder de desejar e desfrutar
das inúmeras possíveis experiências
das muitas estações da existência...


Inquieta tarde de agosto de 2011

Bandeira e eu...


                                            DESENCANTO                                               
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.


- Eu faço versos como quem morre.

Manoel Bandeira




ENCANTAMENTO, ou Le petit mort
Eu faço versos como quem sonha
Com a alma leve… e o coração inquieto…
Fecha o meu livro, se por enquanto
Não tens motivo nenhum de encanto.

Meu verso é pele. Macia e quente…
Sensual vigor… arrepio criador…
Invade-me assim. Ávido e ardente,
Sai-me assim, gota a gota, e sem pudor.

E nesses versos de volúpia louca,
Assim do corpo a vida verte
Deixando um gosto rouco na boca

- Eu faço versos para não ficar inerte...

Renata, inquieta
agosto/2011






















começando do início...

... minha ideia aqui é colocar um pouco das minhas impressões... sobre ideias, lugares, coisas, sentimentos, filhos, mundo feminino... deixar a imaginação voar... e as palavras criarem asas acompanhando o pensamento...
de um jeito bem tranquilo... talvez encontre alguém que queira compartilhar também...
vamos ver se essa experiência dá certo...