Fazia muito tempo, muito
tempo mesmo, uns 15 anos ou mais talvez, que eu não entrava no mar.
Não sou muito afeita a água
salgada, nem a violência das ondas, tampouco ao burburinho das pessoas que
disputam um lugar no mar.
No último verão passei dois
dias na praia e, pela primeira vez, tive vontade não apenas de entrar no mar,
mas de mergulhar na água salgada.
Acompanhada de um entusiasmo
juvenil e uma alegria ancestral fui ao encontro das pesadas ondas do litoral
sul-rio-grandense.
Foi um momento inesquecível,
um daqueles raros momentos da vida em que sentimos o presente da vida, eu me
senti muito feliz!
Mas minha felicidade não era
por causa do mar ou das ondas, minha felicidade era resultado da decisão de
entrar no mar porque eu desejei isso.
A minha felicidade foi pela
escolha realizada, foi pela consciência da opção em fazer aquilo.
Meu último banho de mar foi
um renascimento, um batismo numa experiência banal, um recomeço, uma aposta na
esperança de mudar, de pensar diferente.
Meu último banho de mar foi,
como escreveu o poetinha, a minha “irredutível recusa à poesia não vivida”.