sexta-feira, 27 de julho de 2012

Lacuna



Deixo-me ficar envolta
por pensamentos e lembranças
Do terno amante ausente...

Amar-te me fez criança
Embevecida pelo gosto embriagante
Do beijo do amado ausente...

Busco o mel no sorriso dos teus olhos
E fico a tua espera atentamente
Atenta ao desejo e ao chamado
Do meigo amante ausente...

Tua marca e tua presença
Na minha alma fizeram morada
Estão em mim como sinal de pertença

Tua imagem me povoa a existência
Me cerca, me assombra e me conforta
Compõe o quadro da minha carência

tão distante... esse sorriso fascinante e
o abraço carinhoso... o faltante toque
das tuas mãos suaves e tão quentes...

conspiram todos os meus sentidos
relembrando-me, insistentemente,
o terno amado ausente...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Entre Athena e Arendt




Athena é minha severa razão
Me garante que não devo arriscar
Arendt é meu agitado coração
E me incentiva a voar...

Nesse embalo entre o ser e o querer
Me perco, me encontro e desespero
Athena sugere qu’eu volte a ler
Arendt lembra daquele qu’eu quero
(e que também me quer...)

São duas mulheres em mim
Discutem e sussurram-me ideias
Sem tréguas enlouquecem-me assim
Nenhuma revela a justa alethéia
(nem oferecem a panacéia...)

Mais que dividida estou múltipla
Sem saber a causa primeira
Tampouco a finalidade última
Desse encantamento que desatina
e me deixa sem eira nem beira

Do pathético ao pathos afetado
Sou um joguete nas mãos do tempo
O tempo que não chega, que não é passado
Que não basta, não é suficiente
e escorre apressado...

Athena é a impiedosa deusa da filosofia
Arendt é a sofrida filósofa amante
R.. é apenas uma mulher em agonia...
que cisma e sente
a humana condição de desejante...

E Clio? me acompanha clemente e
valente à distância...

domingo, 22 de julho de 2012

Doce e Belo vampiro





Quando te olho,
Vejo e admiro
Embeveço nesse olhar
E suspiro... susmiro

Doce e belo vampiro
Perfumado narciso
Flor da noite
de sorriso enluarado
tua boca sedutora e loquaz
tem um beijo delicioso
e audaz
se descuido, não respiro!

Pois, me perco, deliro...
em teus braços me atiro
entrego minh’alma
aos teus lábios macios
cativa do teu encanto
fico em paz, em retiro

sem ti não me basto
apenas me viro
tua masculina virtude
revela o sentido
da minha incompletude
lindo, gentil e intrépido
teu desejo confiro
avalio, pondero e defiro
meu doce e belo vampiro

domingo, 15 de julho de 2012

Querência




Sabe essa distância?!
às vezes ela me cansa
Então penso na estância...

De tempo, estação, lugar
Tempo de constância
Estação de bem estar

Sensação da essência
Falta, vazio, o-quietude
Dessa tua ausência-rude

Esse lugar para o qual
Minha alma deseja voltar
Buscando a situação ideal

Busco refúgio no teu retrato
Olhar, sorriso e perfil
Tão belo e tão abstrato

Tu és mesmo real?!
Ou foste do meu destino
Delírio e ardil circunstancial?!

Quem és, doce fantasia?!
Belo e eficaz desígnio
Desígnio, desenho e signo

lindo sonho
Divino disegno
Segno de dio

Mágico e apolíneo
Definição ilustrada
Da festa que me vai na alma

Melopeia de proparoxítonas...




Fui consultar um oráculo
Sobre os tantos desafios
E os muitos obstáculos

Ele respondeu desatinos
Sem esperança... tirei os óculos
E tentei decifrar as respostas
E seus múltiplos tentáculos

Vislumbrei uma escultura
Que... se movia!!! Um espetáculo!!!
Espantada... esconjurei o delírio

Senti um arrepio...  agora era um vampiro!!!
Mas que falta faz um báculo!!!
Podia acertar o Drácula...
E também as górgones... ou seriam gárgulas?!

O que havia naquelas cápsulas?!?
Porque eu penso em epitáfios...?!?
Devia pensar em prefácios e posfácios ou Epitácios?!

O que houve com a minha espátula?!
Porque nada é tão fácil?!?
Do mármore surge uma estátua?!?
Mas como? Se... se move?!

Tem espada e larga espádua
Mas que parábola impertinente!
E agora o escuro vai ficando claro...

Não há mais vampiros... só suspiros...
Que alívio... foi uma febre intermitente...
Já se ilumina, sem mácula, a claraboia...
E encerra a minha fábula de repente...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Tempo de Ser




Se eu tivesse te visto passar
Há anos atrás
Será que terias reparado em mim?
Será que teríamos sido assim?
Se tivesses me conhecido
Será que isso teria acontecido?

Em História há uma máxima
Em História não existe o “se”...
Só há o que “foi” e o que “é”...
Já para a Filosofia o que importa é o Ser
O ser que foi; que será; que pensa que é...
Contingente, imanente
E, às vezes, até transcendente...

Por nós o tempo passou
e alguns vestígios deixou
Temos mais experiência
Muito mais paciência...
Sabemos que tudo tem fim
Que tudo acaba... bem ou não...
Conservamos ainda alguma ilusão

Não somos mais o que éramos
Tampouco o que seríamos
Somos agora o que nos tornamos
Sou uma, tu és outro.
Tu e eu somos fruto de um encontro...
O encontro de um dentro do outro...

E agora pode não ser a melhor hora
Mas nossa hora é agora
Nosso tempo, nosso espaço
Somos felizes nesse lapso

Somos absolutamente
No ato de ser completamente
Um para o outro unanimemente
Sujeito e predicado simplesmente

Meu significado predicativo te pertence
Tua substância significante me é inerente
Substância e essência permanente
Inerência e essência... necessariamente

Não fomos nenhum acidente
Nem matéria contingente
Somos a relação imanente
Dos amantes que existem na gente
Sou para ti... és para mim...
Nesse momento e fim...

terça-feira, 10 de julho de 2012

Contingência




De repente acontece
Alguém passa a existir
Antes que se possa decidir
Ou entender de onde ela aparece

De repente acontece
Alguém surge na nossa frente
E sem mais nem menos colhe a gente
Sem se perceber como aparece

E acontece de repente
A falta que nunca se fez
Então se faz
E sem forçar vai entrando lentamente

E acontece de repente
Tudo muda, foge, gira
Então o mundo vira
E tudo fica incoerente

Acontece de repente
O estranho torna-se íntimo
E o íntimo vira estranho
Mudando todo o mundo da gente

E também de repente
A presença vira ausência
E a ausência vira falta
Sentida tão intimamente

Como é que isso acontece?
Não existe resposta coerente
Porque toda a vida é acidente
E o contingente apenas aparece
E de repente… nunca mais se esquece…

sábado, 7 de julho de 2012

Sobre defeitos, saudades e risadas...


Estou aqui tentando produzir ou parir um artigo acadêmico que será publicado brevemente numa coletânea com vários colegas pesquisadores da história da literatura do Rio Grande do Sul e, no entanto, ao invés de concentrada no objeto central do meu tema (para quem ainda não sabe: são os periódicos literários que circulavam em Porto Alegre durante o século XIX)... estou aqui a cismar sobre os tópicos acima...
Pois então, eles me vêm assim porque padeço de um mal interior, bastante banal, mas profundamente letal chamado SAUDADE...
Pois sinto imensas saudades de alguém, alguém que um dia me perguntou qual seria o pior defeito que ele poderia ter e com o qual eu não conseguiria conviver...?!?
Boa pergunta! Grande pergunta!
Eu não tive resposta para esta questão naquele momento, pensei em algumas coisas importantes, mas que já haviam sido descartadas pelas conversas que tivemos, por exemplo, não tolero burrice do tipo parvoíce, sujeito obtuso, pessoas que se negam a pensar, detesto gente assim...
Coisa que não tem nada a ver com ter ou não ter conhecimento, informação, etc, existe muita gente com formação acadêmica que é de uma estultice sem tamanho, definitivamente, uma coisa não tem nada a ver com a outra!
Tenho uma amiga que costuma brincar dizendo que “gente burra não tem tédio”!!! é, quem não pensa, não problematiza, não tem inquietações além daquelas restritas a manutenção da existência, que são importantes também não há dúvidas, mas...
Bom, superada esta possibilidade, pensei ainda em outras questões mais práticas que não seriam aceitáveis como beber em excesso ou ter um perfil violento, enfim... foram essas as ideias que me assaltaram sobre “piores defeitos”, na verdade, eu acho que nunca pensei sobre isso, nunca fiz uma lista sobre as qualidades que o meu “princípe encantado” deveria ter ou quais ele, definitivamente, não deveria apresentar... do tipo “não gostar de banho” ou sei lá!!!
Mas hoje, sentindo esse vazio na alma que se chama Saudade, comecei a pensar não sobre os seus defeitos, mas sobre as suas qualidades e pensei em apenas três muito prosaicas, a beleza, o bom humor e a inteligência, a ordem é aleatória não tem nenhum significado intrínseco ou subjacente, a ordem foi alfabética, nesse caso...
As deusas Afrodite, Hera e Athena, prometeram ao jovem Páris, respectivamente, o amor da mulher mais bela, o poder e a glória e a sagacidade estratégica, todos sabemos que o desfecho de tal desafio foi a guerra de Tróia em disputa por Helena... a mais bela!
Pensava nisso hoje, enquanto tentava aplacar os suspiros do meu imo peito, como diziam os gregos da Ilíada, e pensei que a beleza é óbvio se esvai com o tempo, a inteligência aprimora-se, mas pode derivar em melancolia se não for devidamente manejada pelo... bom-humor...
Pensei e suspirei com um leve sorriso no rosto, o mesmo que tenho agora ao escrever essa cronicazinha, portanto, por mais que eu o saiba lindo e inteligente o seu bom-humor é a sua principal característica, porque eu adoro o modo como ele me faz rir...
E que característica, tão fundamental é essa capaz de nos cativar a tal ponto que mesmo à distância conseguimos sorrir ao relembrar a presença leve, faceira e estimulante de uma pessoa que, simplesmente, sabe rir e nos fazer rir da vida!!!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Se eu pudesse...


Se eu pudesse...
Estar contigo agora
Confortar tua alma
Tirar-te o desassossego
Se eu pudesse...
Dar-te a calma
Ser teu aconchego
A tua boa hora...
Se eu pudesse
Cuidar das tuas feridas
Das cicatrizes do existir
Ser tua companhia preferida
Se eu pudesse...
Trazer-te o bom sentir
Aplacar teus medos, tua dores
Teus temores escondidos
Se eu pudesse...
Encher a tua vida de cores
Ser tua luz, brilho e calor
E espantar sentimentos sofridos
Se eu pudesse...
Dar-te todo o meu amor...


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Um gato e tanto!



Eu conheci um gato
Um tantão de gato
Um gatão!
Um gato e tanto!
Perguntei-me com espanto
Pra quê tão gato?!
No entanto,
Não obtive resposta
Fiquei cismando
Sobre o gato moreno
Manhoso e dengoso
Cheiroso e gostoso
De olhos brilhantes
E sorriso indecente
Não é gato silente
Ao contrário!
É gato eriçado
Dado a escaramuças
Gato safado!
Adora um rebuliço
Gato danado!
Gato buliçoso
e engraçado
Danado de bom!
Macio e fofo
Como todo gato
esperto e cansado
Como todo felino nato
Dorme tarde, acorda cedo
E ronrona deliciosamente
Quando todo faceiro
Ajeita-se felinamente
Na cama macia
Aguardando contente
A minha companhia