quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tempo de agradecer

A Esfinge e o Labirinto


Pode parecer estranha a escolha deste título para nomear a parte na qual nos dedicamos a agradecer aos que percorreram conosco essa jornada. Entretanto, passada a estranheza inicial, podemos perceber que esses dois símbolos da mitologia costumam acompanhar todos os que se aventuram na esfera acadêmica (talvez em qualquer esfera da vida!).
Em vários momentos do meu percurso, eles se apresentaram a mim e, se por um lado não precisam ser necessariamente objeto de agradecimento, por outro foram eles que me moveram até o final. O contrário seria sucumbir a ambos. Afinal, para que o desafio inicial possa ser alcançado é imprescindível a execução do segundo. E, para que ambos sejam vencidos, muitos são os colaboradores que nos oferecem armas (livros, artigos, conselhos), apoio (carinho, amizade, encorajamento) e motivos para continuar.
Como historiadora, sempre me agrada encontrar entre as fontes algum autor benevolente ou documento eloquente que me conduza para dentro do modo como as coisas eram pensadas, sofridas e realizadas, algo como acompanhar os bastidores – ou dos bastidores – o modo de proceder dessas pessoas de outrora. Por isso resolvi, nos meus agradecimentos, deixar um testemunho da realização dessa pesquisa, da construção desse trabalho e daqueles que, de algum modo, de perto ou de longe, participaram comigo dessas longas jornadas noites a dentro, como um pequeno tributo à memória. Desde já o meu muito obrigada a todos!
Algumas pessoas (sensatas e inteligentes) tornam a tese um pouco menos ameaçadora do que o modo que acabei de aludir, pois permanecem no objeto de pesquisa encontrado no mestrado e o expandem e aprofundam no doutorado. Esse não foi o meu caso.
Eu mudei tudo!... até de orientador.
Je ne regrette rien, como na linda música de Piaf, não me arrependo mesmo de nada, mas que tudo ficou mais difícil, ficou, mesmo com meu querido orientador do mestrado, Prof. Dr. Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, me acompanhando como o grande incentivador desse trabalho e com meu novo orientador, Prof. Dr. Temístocles Américo Correa Cezar, sempre gentil, prestativo e exigente nos momentos certos desse caminho, ainda assim, parafraseando Apolinário Porto Alegre, precisei refazer estudos dos alicerces à cumeeira. No entanto, meus orientadores são admiráveis pessoas e profissionais a quem agradeço por me oferecerem algumas das ferramentas básicas para vencer os obstáculos e, além disso, por terem aceitado realizar esse percurso comigo.
 Temístocles e Guazzelli
Entre os professores dos quais tive o privilégio de acompanhar as aulas durante o doutorado e aos quais devo muitos agradecimentos pelas sugestões e reflexões desenvolvidas a partir de suas disciplinas que, certamente, utilizei para formular as questões esfíngicas, estão a Professora Regina Zilberman e os Professores Eduardo Sinkevisque e Temístocles Cezar.

Prof. Guazzelli e Profª Regina Zilberman comporão a banca

Entre os amáveis professores que me receberam em Portugal, na realização da Bolsa Sandwich, estão o Prof. Dr. Fernando Catroga, da Universidade de Coimbra, por sua preciosa orientação sobre as fontes portuguesas e no desenvolvimento do eixo central da discussão desse trabalho; a Profª Drª Vânia Pinheiro Chaves, que além de me co-orientar e acompanhar nas pesquisas realizadas no Almanaque Luso-brasileiro no Clepul (Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa da Universidade de Lisboa) apresentou-me a muitos pesquisadores do Centro e vários outros professores como a Profª Drª Beatriz Weigert, da Universidade de Évora, que convidou-me a palestrar em seu curso de Literatura Brasileira na UE, e o Prof. Dr. Ernesto Rodrigues, da Universidade de Lisboa, que leu e comentou meus artigos discutindo com grande interesse as informações sobre a circulação periodística; ambos eméritos pesquisadores de periódicos. A todos eles devo muitos agradecimentos pelo apoio intelectual, afetivo e solidário com que me receberam e acolheram.

Laura Areias e minha co-orientadora em Lisboa Profª Vânia Pinheiro Chaves

Profª Beatriz Weigert e eu no café A Brasileira

Espero lembrar todos os colegas, doutorandos e pós-doutores, com os quais convivi, aprendi e desfrutei de grandes momentos em Lisboa, durante aqueles quatro meses: Luciana Éboli (Letras/Teatro-PUCRS), Profª Drª Ana Nemi (História-UNIFESP), Profª Drª Claudiany da Costa Pereira (Pós-doutorado Letras-PUCRS), Prof. Dr. Roberto Guedes (Pós-doutorado História-UFRJ), Prof. Dr. Mauro Póvoas (Letras-FURG), Marcia Almada (História-UFMG), Claudia Souza (Letras-UFMG), Claudia Cristina Azeredo (História-UFRJ), Susana Abrantes (Antropologia-UFRJ), Profª Drª Clara Ornellas (Letras-USP/FAPESP), Prof. Drª Laura Areias (Letras-Universidade de Timor), Profª Drª Mariana P. Candido (História-Universidade Princeton), e, principalmente, Maria Manuel Rodrigues, a queridíssima Miúcha para todos nós, também pesquisadora do Clepul, que compartilhou sua casa e sua vida conosco. Todos foram preciosos companheiros no enfrentamento do labirinto.

Ana, Dini, Luciana, Márcia, Claudia e eu
na Pastelaria Suiça, Praça da Figueira

Essa estada em Portugal só foi possível pela saudável insistência de meu orientador, pela paciência da Profª Drª Jacqueline Hermman, que me permitiram o ingresso no Projeto do convênio CAPES-GRICES, intitulado Memória, Escrita da História e Culturas Políticas no mundo luso-brasileiro, integrado pelo meu orientador português Prof. Dr. Fernando Catroga e, sobretudo, pela bolsa-sandwich de doutorado concedida pela CAPES de agosto a dezembro de 2009, que permitiu esse deslocamento para a realização da pesquisa e a participação em congressos e encontros científicos que ampliaram e enriqueceram as reflexões aqui apresentadas.
O doutorado é um período de menor convivência com os colegas, entretanto, é também o momento de consolidar as amizades e parcerias intelectuais com os colegas de mestrado/doutorado e ter a oportunidade de conhecer novos companheiros de ofício, entre os primeiros estão Álvaro Klafke, Nóris Leal, Gabriel Berute, Fernando Nicolazzi, Arthur Ávila, Luciana Lopes dos Santos, Igor Teixeira, Marisângela Martins e Carol Bauer, mais próximos durante o mestrado, mas não menos solidários no doutorado; entre os novos colegas estão Evandro dos Santos, Marina Araújo, Cassia Silveira, Luciana Boeira e Eliete Tuburski, todos de algum modo contribuíram para que eu conseguisse sair do labirinto. Um agradecimento especial ao Professor Benito Schmidt que torce muito por todos nós e tem sempre um sorriso acolhedor em qualquer ponto da jornada e à Professora Sandra Pesavento, para sempre na memória.
Conheci pessoas maravilhosas com as quais compartilhei experiências e dividi expectativas em outro espaço de conhecimento na UFRGS, me refiro ao curso de Museologia que faz parte daquelas inúmeras entradas que existem no labirinto e que podem apenas nos atrasar o percurso ou oferecer algum perigo tenebroso, nesse caso foi exatamente o contrário, foi uma feliz e surpreendente passagem que me ofereceu suportes de muitas ordens, afetivas, intelectuais e instrumentais, tenho muito a agradecer a Eliane, Ana Celina, Letíssia, Eunice, Cidara, Giovane, Bea, Júlio, Carla, Manolo, Valesca, Tânia, Ida, Márcia, Renata Schoen, Davi, Jeanice, Luciana, Julinha, Michele, amigas e colegas sensacionais, aprendemos e nos divertimos muito juntos. Entre as queridas professoras que conheci nesse novo campo, e tenho muito a agradecer a elas, estão Ana Dalla Zen, Marlise Giovanaz, Lizete Dias de Oliveira, Zita Possamai e a surpreendente Valéria Abdalla. Assim como às fantásticas amigas do Museu da UFRGS, Claudia Aristimunha, Lígia Fagundes e Maria Cristina Leitzke. Todos vocês foram muito importantes e tornaram meu caminho muito mais significativo.
Ana Z, Marlise, Rô, Leti, Bea, Eliane e Eunice
(numa das tantas jantas na casa da Eliane)

Leti, Eliane, Eunice, eu e Cidara
(Abertura de exposição no Museu UFRGS)


Ida, Tânia, Carla e filhinha (na aula de expografia)


festa-janta na casa Eliane (Leti, Bea, Rô, Eliane e eu)

Na formatura da primeira turma de Museologia (a minha)
com Ana Celina e Eunice
Ainda no campo museológico preciso agradecer a algumas pessoas que me acompanharam de perto nesse caminho, do Sistema Estadual de Museus, Simone Flores e do Museu Julio de Castilhos, Andrea Reis da Silveira e Luiz Armando Capra Filho, sempre dispostos a ajudar e compartilhar conhecimentos e experiências.
Inúmeras pessoas e instituições fazem parte de uma tão longa jornada, destacarei na UCS, os professores-doutores-colegas Katani Monteiro, Maria Beatriz Pinheiro Machado, Marília Conforto, Daysi Lange, José Martinho Remedi, Natalia Pietra Mendez, Roberto Radünz, Neiva Panozzo e Idalgo José Sangalli. Todos compartilharam comigo as aflições da docência em simultaneidade à escrita da Tese, ofereceram conselhos preciosos em ambas atividades, foram solidários e prestativos em muitos momentos, me auxiliaram tanto na prática quanto na burocracia da docência ou contribuíram com diálogos, carinho, amizade e generosidade nos tantos percalços e armadilhas encontrados no labirinto da vida e da Tese, de qualquer maneira todos foram fundamentais nesse meu percurso.
Devo um agradecimento especial a todos os atendentes em arquivos, bibliotecas e institutos nos quais pesquisei, sem esses anônimos nenhuma Esfinge pode ser decifrada e nenhum labirinto pode ser percorrido.
Além dos suportes, armas e munições oferecidos pelos professores, colegas e instituições, há o apoio daqueles que acompanham a dramática existência do ser que é mãe, esposa, dona-de-casa, amiga, estudante, professora e, quando sobra um tempo, historiadora (ou na ordem inversa). Essas múltiplas faces e atividades dão um cansaço danado, mas também compensações imensuráveis, e para que tudo isso possa ser realizado com algum relativo êxito algumas pessoas contribuem substancial e significativamente.
Preciso nomear e agradecer do fundo da alma às minhas especiais e queridas amigas, de Porto Alegre, Krishna Daudt, Camila Kieling, Eliane Muratore e Ana Celina da Silva, sem os abraços carinhosos, as conversas infindáveis e a presença física e espiritual de vocês muita coisa não teria sido possível. Em Caxias do Sul, Fátima, Lenara e Marta, as queridas amigas e escudeiras, quantas vezes vocês atenderam aos meus filhos nas minhas ausências, obrigada! As amigas e amigos distantes, mas que sempre estão na torcida, de Joinville, Edmiria Schmitz Shao, Shao Meng Chung, Elisângela Silva, Helena Richlin; de Curitiba, Clóvis Gruner; de Florianópolis, Ivori Scheffer e Viviane Borges e de Pelotas, Sônia Schio.

Kri

Camilinha

Lenara e Marluce (meus anjos-da-guarda abençoadas)

Fafe e Bacin (in memorian)
no lançamento do livro em Caxias

Diana e Lu sempre no apoio e na torcida

Minha mãe, Guiomar, e minha irmã, Flávia, torceram muito para que eu conseguisse concluir mais essa etapa. Aos demais familiares Fernando, Cátia e Vicente, Roseana e Celso, Clécio e Karen, Marcelo, Mariluce, Marcelinho e Miguel, que mesmo de longe sempre se fazem presentes.
Algumas pessoas são mais do que seres que nos acompanham a existência, são verdadeiros anjos-da-guarda que podemos ver, conversar e ser abraçados por eles, entre esses seres terrenos e celestiais estão meu ex-marido, mas para sempre amigo, companheiro de ofício e pai dos nossos filhos, Carlos César Gomes. Ele acompanhou como nenhuma outra pessoa o percurso por esse duplo labirinto da vida e da Tese, sendo a Tese uma das muitas entradas possíveis do labirinto da vida, de qualquer modo foi e continua sendo a pessoa com quem mais compartilhei aflições, angústias, alegrias e vitórias durante 20 anos de casamento e esses últimos 4 anos de doutoramento. Devo-lhe um agradecimento que nunca serei capaz de retribuir da mesma maneira.

Outros seres terrenos-celestiais me povoam a existência, meus filhos Francisco, o Fran, e Carlos Eduardo, o Cadu, ambos estiveram ao meu lado a cada página produzida, a cada leitura realizada, sentiram a minha ausência durante os meses que passei em Portugal, comemoraram comigo os trabalhos de docência que realizei, ficaram muito orgulhosos pelo livro que publiquei, e agora, no final, perguntavam todos os dias. “E aí, mãe, conseguiu terminar a Tese?” E o Cadu, sempre muito espirituoso, perguntava, “mas esse livro que tu estás escrevendo, quando tu terminares “eles” vão te pagar alguma coisa?!” Essas criaturinhas são os reais motivos para atravessar os perigos do labirinto e não me deixar devorar por nenhuma Esfinge.

Mas eu tenho também alguns “anjos de verdade” que me acompanharam de alguma nuvem confortável: meu pai, Neverci, a profª Sandra, o prof. Manoel Salgado, Caldre e Fião, Apolinário Porto Alegre, José Bernardino, Coruja e outros tantos espíritos evocados nessa pesquisa, mas nenhum outro foi tão importante para mim quanto a minha amada avó, D. Laura, tão entusiasmada para ver a neta mais velha tornar-se doutora, não resistiu a um câncer na laringe e se foi, um mês antes de minha volta de Portugal. Não consegui me despedir dela, mas tenho certeza de que ela está ao meu lado nos bons e nos maus momentos.

D. Laura em 2003

Enfim, esse é um resumo imperfeito do percurso realizado para a concretização dessa Tese e dessa etapa da vida, espero ter conseguido registrar um pouco dessas variadas esferas que durante a feitura de uma Tese ficam tão evidentes, sobretudo resta a sensação de dever cumprido e de que agora posso voltar a assistir filmes com meus filhos, ir ao cinema e fazer bolos nos fins-de-semana...



Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinicius de Moraes – O Haver

Ana Rech, fevereiro de 2012.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Borboletas, bambas letras...


Borboleta é flor que tem asas
Borbulhas são bolhas, de sabão,
De água ou sangue em ebulição
Letras borbulham palavras esparsas
Dispersas, deconexas, perplexas

A borboleta voa e baila no ar
Borbulhas pulam, saltitam,
Espevitadas e inquietas fervilham
Bolhas aos borbotões brilham
No sol fulguram e ao luar cintilam

O brilho da bolha é furta-cor
A boa letra vai borboletear
No jardim das palavras pousar
Compondo versos de amor
Que não se cansam de dizer
Borboleta o teu encanto
É ser flor e não saber
E sem saber que é flor
Bate as asas sem espanto

Borboleta pelo céu adeja
Borbulhas pelo céu flutuam
Ambas flanam, voejam
E encontram boas letras
Que traduzem o leve existir
Bambas letras sem direção
Bobas letras sem noção
Borboletas sem inquietação


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Borbulhas...


Tu és um acinte!
Te saem fagulhas do olhar
E propostas indecentes
Desse sorriso encantador
A quem convidas à dança?

Tens algum requinte!
e todo um expressar
ardente… concupiscente…
de onde vem esse calor?
À quem ofereces a taça?

Sê gentil e bom ouvinte
Lê com atenção o que te vou contar
Tens um dom ambivalente
De provocar um tal fulgor
Que enlouquece a temperança

Se aceito teu convite
Embarco num doce vagar
Dádiva evidente no meu presente
Discricionário agir sem pudor
À quem concedes esperança?

Será que teu imenso apetite
Consigo bancar ou posso aplacar?
Intermitente e momentaneamente
Com o excelente requinte do meu sabor
Serei o ponto final da tua andança?


sábado, 26 de maio de 2012

Valete


Quanto vale um Valete?
Dizem que vale menos que o Rei!
Mas quanto vale o Rei?
Você sabe? Eu não sei!
Meu Valete vale um Rei
Meu Valete é valente
É lindo e persistente
É simpático, inteligente
Meu Valete é muito gentil
deve também ser varonil
É perfeito banquete
Daqueles de Babette
Banquete para muitos talheres
Quem sabe, talvez?!
Para muitas mulheres
Meu Valete valente
É resistente
Têm lábia e brilho nos olhos
Tem boca e lábios brilhosos
Tem língua ferina
E pensamento afiado
É audacioso e intrépido
Por isso fico lépida
com a pele mais que tépida
estou ficando tagarela
porque toda moça bela
pelo Valete espera
suspira...
pondera...
e vira fera!


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mire o belo


Mire e veja
Quanta imagem na vida
Quanto tempo perdido
Quanta coisa não dita
Quanto beijo esperado

Para e olha
É tanto que há para ver
E há mais ainda a sentir
Mas é preciso coragem
Ser valente, audaz e crer
Que há muito que descobrir
Unindo real e miragem

Mire e veja
Quanta beleza no olhar
Quanta gentileza no ser
Quanto deleite por vir

Mire e preveja
É bela a beleza de ver
É belo o eterno mirar
Perdida naquela imagem
Eu sigo sem perceber
O quanto na paisagem
Interfere a beleza de ser

Mire apenas a alma
Respire as palavras
admire a cor dos sentidos
aprecie o gosto dos sentimentos
preserve  paciência e calma
liberte-se de todas as travas
alforrie gestos contidos
presencie os acontecimentos

depois disso
deixe-se ver, mirar, olhar
perscrutar
fique quieta
escute
esteja atenta
desinquieta
esquente, afrouxe
esfrie, aperte
repita o gesto
veja e mire apenas o belo...


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Baianas e cariocas...


Eu não sei o quê
Que a baiana tem
Mas eu sei o quê
Que a carioca tem
Ela tem sorte!
Convive de perto
Com gente de toda parte
Gente do sul e do norte
e também do nordeste
êta mulheril contente
mulherada que tem aporte
com suporte de quem
as queira suportar tão bem

a carioca tem sorte!
ela tem Copacabana
e Ipanema
tem um mundo de novela
vai e vem na maior manha
assanha qualquer poeta
tem graça, tem bossa
e tem um borogodó qualquer
enquanto a baiana requebra
e assanha como ninguém
a carioca tem a manha
tem o mar e a lagoa

a carioca tem sorte!
mora bem e ri à toa
tem a paisagem a seu favor
e a baianinha o seu calor
coitadas das demais
brasileirinhas
ficam a dever na cor
não são trigueiras
embora tenham lá
o seu sabor
e possam até ser mais
fagueiras
brejeiras
ariscas, arteiras
não tem a sorte
que as cariocas têm
ou que as baianas
tiveram também
poetas de bom calibre
que as cantassem tão bem


terça-feira, 22 de maio de 2012

Tramas e pontos



A vida tem tantas tramas
Tramas sem pontos
Tem tantos pontos
Sem final nem nó
Tem fitas e dramas
Sem chuleio ou pesponto
Sem entrelaços  na conclusão

Tanta linha gasta
Em ponto fraco
Tanto tempo gasto
Sem cor nem dó
Tanto pano
Sem serventia
Para costura
com ponto em falso
na urdidura
que não tem fim

Tanta trela, sem entretela
Sem alinhavo nem alfinete
No entretecer da vida bela
Bordada em tela e bastidor
agulha boa, linha ordinária
sem contraponto nem arremate
a vida tece, cose, remenda

Dedos cansados
fazem o que podem
na esperança
que um dia enfim
da teia que foi tecida
com tanto esforço
reste apenas e tão somente
o fio de uma lembrança...