Apuleio, O Asno de Ouro, introdução, notas e tradução direta do latim de Ruth Guimarães, Rio de Janeiro, Edições de Ouro, s/d, p. 105-107. http://www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/apuleio/asno/amordescoberto.html"Eu te confesso, Psiquê singela, esqueci as ordens de Vênus minha mãe,que te queria cativa de imperiosa paixão pelo mais ínfimo dos miseráveis e condenada a uma abjeta união.Fui eu, pelo contrário, que voei ao teu encontro, para ser o teu amante.Era agir levianamente, eu sei.O ilustre sagitário ferido com suas próprias flechas.Afinal, fiz de ti minha mulher, para que me tomasses por uma besta monstruosa e tua mão cortasse com o ferro uma cabeça onde tu vês olhos que te adoram."
... as mulheres da literatura, da mitologia, ou as silenciosas heroínas da história cotidiana trazem em algum ponto da sua jornada a marca da curiosidade... a curiosidade não é atributo, exclusivamente, feminino, mas os homens o dissimulam com maior habilidade...
... assim foi com Psique, com Pandora, com Arendt (sim, Hannah Arendt a filósofa... essa mesma!!!), Sabina Spielrein, ou Lizzy Bennet, e comigo e com muitas outras mulheres... que se deixam levar pela curiosidade da alma, do coração ou do corpo...
... Vênus ou Afrodite, a deusa com defeitos humanos (porque os gregos desconheciam a hipocrisia, ou não a praticavam tão descaradamente...), enciumou-se de Psique... pela beleza que inspirava aos homens ao seu redor... mandou o próprio filho castigar a mortal... foi Eros ou Cupido ferido mortalmente por sua seta de amor... e apaixonou-se, perdidamente, por Psique...
... Psique viveu durante muito tempo atormentada por uma beleza que a impedia de amar e de ser amada apenas como mulher e não venerada pela beleza que possuía...
...ela queria amar e queria ser amada... como qualquer mortal feminino ou masculino...
há algum tempo, escrevi esses versos talvez, inconscientemente inspirada pela mágica lenda de Eros e Psique, um amor quase impossível...
... há certa amargura neles... mas são parte de um momento... um importante momento... e os intitulei...
A estética da existência
De que serve uma existência
Que se volta para o melhor?
De que serve a excelência
Se o que a vida pede é muito menos?
De que serve cultivar o espírito
Se apenas o corpo desperta desejos?
De que serve tanto conhecimento
Se o que mais precisamos dali não pode ser extraído?
De que serve uma sensibilidade apurada
Se a fruição não pode ser alcançada?
De que serve a plena consciência
Se o sentimento não lhe deve obediência?
De que serve o domínio da paixão
Se o sofrimento há sempre de ser tão grande?
De que serve não permitir-se a compaixão
Se as forças se exaurem com o orgulho?
De que serve tanto aperfeiçoamento
Tanto dever, tanta dignidade moral
Se no final
Só resta o instinto animal...
out/2011
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