domingo, 29 de abril de 2012

Bons momentos da vida...




Hoje o que me faz mover os dedos sobre o teclado (poderia ter escrito... o que faz molhar a pena no tinteiro...)... é a inspiração que me traz Vinícius, o poetinha, e a alegria de celebrar...


No Samba da Bênção, Vinícius lembra que “é melhor ser alegre que ser triste”, porque a “alegria é a melhor coisa que existe”... mas como bom filósofo e criatura dionisíaca que foi, o poetinha adverte que “para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”... “senão, não se faz um samba não”!!!


Vai daí, que ontem, depois de longo e tenebroso inverno existencial, saí para dançar... melhor, fui convidada para dançar, digo melhor, porque sou de um tempo (o século XX) em que mulheres gostavam de ser convidadas para... sair, jantar, dançar... enfim...


E friso o ser convidada, que é bem diferente de ser chamada para sair... é muito diferente!!!!


Ainda que os tempos tenham mudado, e mudaram, algumas modernidades ainda me são muito estranhas confesso... sou uma mulher à moda antiga...


Ao menos em alguns aspectos... de todo o modo foi bom sair para dançar... foi muito bom mesmo!!!


Ainda na preparação, ou na pré-para-a-ação... estava pensando, enquanto fazia o jantar dos guris, (essa quem tem filhos sabe... há que se deixar tudo pronto para eles antes... e depois também...)... pensava que eu não precisava mais pensar (que ótimo isso, uma contradição interna na frase e na ação, aliás a frase é uma ação... pelamordezeus....continua!!!)....


Não precisava mais pensar em arrumar aquela nota de rodapé, aquela referência, aquela frase... explicar melhor aquela ideia... enfim... eu sentia um gozo profundo de liberdade interior, porque acabara de romper os duros grilhões da Tese... pelo menos por enquanto...


E, por isso mesmo, celebrar é tão bom, dançar é tão bom, divertir-se é tão bom!!!


Não sei mesmo há quanto tempo não saía... descobri que não sei mais sair... primeiro (novidade!!!) não encontrava a roupa certa para o lugar em que iria... (não encontrava por que isso não existe em nenhum guarda-roupas feminino que eu conheça...)


... a roupa certa... enfim...


segundo, chovia, estava frio... tudo conspirava para que eu abandonasse a ideia de sair e me enfiasse debaixo do meu edredom quentinho... resisti olimpicamente aos apelos dele... e pus meu sapato de salto alto, já meio empoeirado no fundo da sapateira... respirei fundo e saí...


Saí não... fui buscada... o que é bem diferente...


... o lugar, para variar eu não conhecia, descolado, badalado, segundo as opiniões vigentes e conhecedoras desses lugares... a música estava perfeita, coisa rara (para mulheres que vivem como eu há dois séculos de distância do seu tempo presente...)


... em todo o caso a música estava perfeita porque era um “Revival” (ai que lindo!!) dos anos 80... ahhhh é... aqueles que já não faz mais só 20 anos que passaram...


... a música era perfeita, o lugar legal, a companhia idem, e eu me sentindo deslocada (pode!?!?!?!)... pode!... quando faz tanto tempo que não se faz uma coisa pode!... eu tenho o péssimo hábito de me sentir meio “tia”..., continuei achando que a minha roupa não estava adequada, que havia mais guriazinhas do que mulheres ali... enfim... que eu podia dar de cara com uma das minhas alunas... depois, fui relaxando... e três Bellinis depois (que coisa pobre!!! Devia ter dito Manhatans... ou Cosmopolitans... ou qualquer daqueles drinks de Sex and City..., mas não, eu tomo Bellinis mesmo!!! Se duvidar até Keep cooler me deixaria levinha ontem...)


E três Bellinis depois, eu já estava completamente à vontade... rindo... conversando...dançando...

 Que noite!!!


E para arrematar com os versos (podres de machismo) do poetinha, mas que não deixam de ser assim mesmo uma mimosura só, porque (vou dizer) me traduzem sim e muito...


É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não


Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão


... porque a vida amigo...


A vida não é brincadeira,
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão...



... o lugar, a música e a companhia estavam completamente adequados aos anos 80... o problema é que eu estou sempre cronologicamente deslocada, por isso a escolha de Vinícius e não de Kid Abelha, ou Titãs, ou Capital...


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